Só
as crianças sabem o que procuram, disse o principezinho. Perdem tempo
com uma boneca de pano, e a boneca se torna muito importante, e choram
quando a gente toma...
- Elas são felizes... disse o guarda-chaves.
(O pequeno príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
Elas são felizes... crianças são felizes!
Crianças
são genuínas e sabem valorizar aquilo que realmente importa. E a forma
mais sincera delas demonstrarem isso, é brincando.
O
brincar é mais que gostoso, é fundamental. Brincar envolve aspectos
emocionais, físicos, cognitivos, sócio afetivos e motores. É importante
para que a criança se desenvolva de forma adequada, integral, completa e
cresça saudável, tornando-se um adulto com habilidades necessárias.
E não é
preciso ‘inventar moda’ na hora de brincar! Claro, os brinquedos
sofisticados de hoje em dia são bacanérrimos, mas, brincar vai muito
além de tecnologia de ponta e pode ser bem simples. O importante é o
brincar, não o brinquedo.
As
crianças falam ao brincar. Demonstram sentimentos, angústias, alegrias,
medos, raiva e se expressam através de desenhos, jogos e brincadeiras
diversas. É um momento só dela, onde realidade se mistura com fantasia e
ela pode ser quem ela quiser e que permitirá a revelação de suas
relações com o mundo e consigo mesmo.
Percebem
a importância?! Brincadeiras não existem para ‘distrair’ crianças,
passar o tempo, não é perda de tempo. Elas são essenciais, regulam os
comportamentos, ensinam sobre a vida, desenvolvem habilidades, estimulam
o raciocínio, trabalham os músculos e o crescimento físico, despertam
emoções, exercitam a imaginação, favorecem a curiosidade, inspiram a
inteligência, abrem os olhos pras diferenças, incitam à criatividade,
ensinam respeito ao próximo e ao meio ambiente, auxiliam na
concentração, movimentam o corpo, trabalham a socialização, apresentam o
mundo! Brincar é muito sério! Brincar é um direito da criança, como
apresentado na Lei 8.069, de 13 de Julho de 1990, denominada como Estatuto da Criança e do Adolescente, no Capítulo II, Art. 16º, Inciso IV.
Dia desses assisti um filme encantador, que indico muito: “O menino de Ouro” (Foster – Reino Unido 2011). A
história é linda e trata de um assunto delicado: a perda de um filho de
um casal, que não consegue engravidar novamente, no qual a esposa tem
uma Loja de Livros Infantis (mas não os lê) e o esposo tem uma Fábrica
de Brinquedos (mas não brinca). Um ‘anjo’ chamado Eli é ‘adotado’ por
eles, e os devolve a vida, através do brincar! Eli leva os novos pais a
um Parque de Diversões e eles passam o dia brincando e redescobrindo a
paixão pela vida. Brincar é viver. Pra crianças ou adultos, é
excepcional. Existem muitos tipos de brincadeiras, algumas exigem a
presença de grupos, outras são solitárias, outras precisam de observação
constante, mas todas têm seu significado e importância.
Como
dizia o ‘Pequeno Príncipe’, os adultos se acham sérios demais e se
perdem por conta disso. Perdemos o brilho, perdemos esperança, perdemos
amor quando paramos de brincar. Os pais precisam brincar com os filhos,
pois são exemplos para os pequenos. Pensamos que não, mas as crianças
são ‘radares’ ligados o tempo todo nos comportamentos e atitudes dos
pais e dos adultos que convivem em torno delas. É preciso participar do
momento lúdico dos pequenos e, quando eles crescerem, também! Quando seu
filho se tornar um adolescente e pedir um skate, compre dois e vá
brincar com ele! Brincar juntos aumenta o grau de confiança e fortalece o
vínculo entre pais e filhos.
Você
brinca com seu filho? Você investe tempo nisso? Você sabe quais
brincadeiras são importantes e/ou necessárias para o quê e em quais
idades? Vejamos:
Até os 2 anos de idade:
A
brincadeira precisa estimular os sentidos do pequeno. A criança está na
fase sensório-motora e é preciso muita cor, música e expressões faciais.
Objetos de texturas, tamanhos, cheiros e cores diferentes para a
criança segurar, apertar, passar as mãos e até colocar na boca.
Brinquedos de empilhar, encaixar, movimentar com as mãos, chocalhos,
bolas. Contar histórias representando os acontecimentos citados de forma
alegre e divertida. Objetos de puxar e empurrar que desenvolvem o
equilíbrio e os músculos. Brincar de apontar e falar as partes do corpo e
objetos ao longe. Não se engane, a criança entende muito bem o que você
está fazendo! É preciso muita, muita, muita repetição! A música
desenvolve a linguagem e os livrinhos são importantes para eles se
familiarizarem com as letras, preparando-os para as próximas fases.
Coloque a criança no espelho e o apresente para ele mesmo! Caixas com
brinquedos variados para a criança tirar e guardar de volta. Utilize
barra de apoio na parede para estimular a sustentação do corpo, a
coragem de se arriscar a levantar e brinquedos que estimulem a
curiosidade.
De 3 a 4 anos de idade:
Nessa
fase começam as brincadeiras de faz de conta e é comum a criança repetir
tudo que vê os adultos fazendo e representar cenas de seu cotidiano. É a
idade em que as meninas querem ser princesas e os meninos, super
heróis. É uma idade bacana para aprender muitas coisas, inclusive, senso
de responsabilidade. É possível brincar de casinha, escolinha,
atividades de profissões, bicicleta, e atividades diárias dos adultos.
Essas brincadeiras permitem que as crianças se relacionem com problemas e
soluções que passam do fazer imaginário para o aprender real. É
importante incluir brincadeiras que exigem mais coordenação motora,
brincar com baldinhos na areia e montar quebra-cabeças com peças
grandes, por exemplo. Brinquedos de montar e desmontar e bonecos com
roupas fáceis de serem tiradas e vestidas. Pentear, despentear, fazer e
desfazer. Atividades que desenvolvam percepção espacial e equilíbrio.
Caixas grandes para ele entrar e sair, piscina de bolinhas, pula-pula,
piscina. Brincadeiras de desenhar, pintar, modelar já podem começar
nessa fase e estimulam a criatividade, raciocínio e concentração. Os
amigos imaginários aparecem por aqui e conversar com os pequenos nessa
idade pode ser surpreendente! Lembrando, claro, que é importante manter
um tom de voz adequado, estar na altura da criança, falar de forma
alegre e abusar nas expressões faciais.
5 a 6 anos de idade:
Brincadeiras
motoras (de movimento) e de representação (faz de conta) continuam e se
aprimoram. As de representação se aprimoram de modo que se esvaem, ou
seja, a criança já começa a percebê-la como ser pensante. Tem gostos e
personalidade! A criança começa a reparar que pode produzir coisas para
oferecer ao outro, então a pintura e os desenhos também se aprimoram e
agora são presentes para os outros. Massinha é estimulante e outros
materiais, como argila, terra e areia. Fase adequada para os
instrumentos musicais fazerem mais sentido e desenvolverem habilidades. É
a hora de pensar em um bichinho de estimação! Ensinar o cuidado, o
carinho. Os esportes também são importantes agora, desenvolvem a
musculatura, respiração, psicomotricidade, respeito às regras,
hierarquia e senso de equipe. Essa interação com outras crianças deve
ser observada de modo especial, pois é a oportunidade que os pais têm
para passarem valores e princípios para os pequenos. Outras brincadeiras
divertidas e gostosas de brincar junto das crianças nessa idade são:
pega-pega, esconde-esconde, o mestre mandou, pega palito, dança da
cadeira... Viram como é possível se divertir sem a ajuda de brinquedos
mirabolantes e os famosos vídeo games? Sabem aquelas brincadeiras que
vocês, pais, brincavam na infância? É hora de relembrar e ensinar os
filhos! Ah, e brincar com eles, claro.
7 a 8 anos de idade:
Fase das
descobertas... De alfabetização mais intensa, brincadeiras em grupo,
laços de amizade, dúvidas e mais dúvidas, curiosidade sobre tudo.
Momento de vínculo e estímulo. Se nas fases anteriores foi tomado o
cuidado de estimular a criança a brincar, desenvolver sua expressão,
lidar com os conflitos e encontrar soluções pra eles, aqui será mais
fácil de interagir com o filho. Nem só os brinquedos são importantes
nessa idade. São essenciais atividades lúdicas, assistir filmes,
estimular a leitura, construir objetos e brincar com eles, conhecer
materiais novos, além de participar de atividades que exijam mais
raciocínio lógico, como jogos de cartas e tabuleiro, revistas de
passatempo e quebra-cabeças mais elaborados. Aqui também é importante se
preocupar com o sedentarismo. Jogar vídeo game nessa fase é legal, a
maioria das crianças dessa faixa etária já dominam o computador e todo
tipo de jogos eletrônicos. Mas é importante ficar atento e conduzir o
filho a se preocupar com a própria saúde. Leve a criança para o mar,
leve para o parque, procure atividades ao ar livre e que estimulem
movimentos corporais. Deixe os games para aqueles dias mais frios ou
chuvosos. Além da fase da construção da aprendizagem, é também a da
competição. A criança precisa de atividades que a introduzam no mundo
social.
De 8 a 12 anos de idade:
Fase
deliciosa... A criança interage muito, é esperta, competitiva, quer
aprender sobre tudo e é curiosa. Aproveite e estimule muito! É o caminho
para uma adolescência tranquila. Nessa idade a criança já é capaz de
entender as regras. Bacana brincar mais com cartas, jogos de tabuleiros,
e intensificar os esportes. Abuse dessa fase pra ensinar disciplina,
obediência, tolerância às frustrações e, a habilidade de ‘saber perder’.
Não deixe seu filho ganhar jogo algum de propósito. Ensine a ele que a
vida nem sempre lhe será favorável, mas que ele pode sempre seguir em
frente. Que nem sempre ele vai vencer, mas, se não tentar, não vencerá
jamais. Ensine que ele precisa tolerar as outras pessoas e respeitá-las
como são. Que ele jamais poderá mudá-las, mas que pode mudar o próprio
comportamento em relação a elas, construindo relacionamentos saudáveis.
Os jogos fazem com que a criança tenha consciência do outro, e a
apresentam o mundo socializado, regido pelas regras. Estimule jogos e
brincadeiras que envolvam além do esforço físico, estratégias e
raciocínio mais elaborado, como xadrez, mímicas, entre outros.
Percebem quantas coisas importantes podem ser ensinadas aos filhos, brincando?! Brincar é fantástico.
Importante: essas
são características gerais. Mesmo com idades, residências, momento de
vida, estímulos e preocupações iguais, cada criança tem o próprio tempo
de desenvolvimento. É preciso respeitar este tempo, observando o que é
considerado esperado ou não para a idade, mas com cuidado. É essencial
adaptar tudo, absolutamente tudo, para sua própria realidade e de seu
filho. Use e abuse da criatividade, respeite os próprios limites e dos
pequenos e divirta-se ao seu modo!
Lembre-se: atente-se
à segurança da criança, promova um ambiente acolhedor, seguro,
divertido e alegre. Ensine, apoie, estimule. Seu filho precisa disso! E
mais, a capacidade intelectual de uma criança depende 70% dos estímulos
recebidos até os 3 anos de idade. Aproveite e invista nesse tempo!
Talita Guedes Bittioli,
psicóloga graduada pela Universidade Metodista de São Paulo, com
extensão na abordagem Fenomenológico-Existencial. Palestrante em Escolas
sobre diversos temas relacionados ao contexto Infantil, para pais e
alunos. Ainda não é mãe, mas é apaixonada pela maternidade e
principalmente pela Família.